"Sabe o que é? Nunca procurei respostas. As perguntas, elas sim, me incomodam: ressoam, reverberam, ricocheteiam. É tipo um masoquismo da dúvida."

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Haiti não é aqui

Entre escombros, não são os tremores que abalam um país. O verdadeiro abalo, este veio em ondas sucessivas e frequentes, que engendraram o encravamento, na primeira porção de esperança de uma viagem de "sucesso", feita em 1492, da maior máquina reprodutora de miséria humana nas Américas, desde então.

O sangue negro compensou: anos de farras coloniais, engendramento nefasto da perversa lógica preparadora dos destinos agigantados do capital: da colônia à indústria, do tabaco ao aço, do açúcar ao tecido. E, das almas lançadas no mar, agrilhoadas à crueldade às almas que caíam de sono sobre teares em York.

A belissima "prontidão" das nações mais ricas do planeta, essa união do mundo em socorro às vítimas de estragos produzidos por amargas desigualdades confirmadas e chanceladas durante séculos pelos mesmos samaritanos.

Se Toussaint Louverture estivesse a ver o caos do sonho que criara, sonho este detestado pelas nações europeias de sua época, certamente preferiria ter voltado à condição de escravo colonial. O inferno lhe seria menos doloroso.

E, se não bastasse isso tudo, o absurdo chega ao impensável: uma revelação de ignorância e intolerância, sentimentos da mesquinharia perversa e da tacanhez e demência do "ocidente branco civilizado". Ignorar contextos, retirá-los do debate sobre os buracos do mundo, afirmá-los na condição de alheios, de alijados, essa é a atuação necessária de uma macropolítica da exclusão. "O inferno são os outros, e eles que fiquem lá. O Haiti não é aqui. " Na boca do representante diplomático:





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