"Sabe o que é? Nunca procurei respostas. As perguntas, elas sim, me incomodam: ressoam, reverberam, ricocheteiam. É tipo um masoquismo da dúvida."

sábado, 2 de janeiro de 2010

O ano que começa, esbofeteando.

Irrelevância. Esse sentimento, que a bem da verdade é um não-sentimento, negação do que nos faz mais humanos: o furacão de frios na barriga, humores, cóleras, risadas, gargalhadas, ciúmes.

Irrelevância não se sente, se pratica. Vai pela contramão disso tudo. Nunca ouvi ninguém dizer que sentiu outro ser irrelevante. Menosprezo, tudo bem , porque há um certo tom de relevância: reduz-se alguém à condição inferior, por considerá-lo pior que si. Feito o Boris Casoy em rede nacional, que colocou os garis "no alto de suas vassouras" como "mais baixos na escala do trabalho".

Mas a irrelevância, esta é silenciosa, e produz resultados inesperados.

No último dia do ano, voltava para casa, e um daqueles Bichos de Bandeira estava ali, vendo o ano chegar. Que ano? Cobertores, uma catinga de urina, umas latas de tinta, e sua solidão, apática, sob uma laje. E lá estava no dia primeiro também. Sucessões de tempos que engolem aquele ser, e que não se fazem marcar, um presente sem fim, um passado apagado, um futuro que jamais chegará.

Até que grite, encontrando seus iguais. Ou seja eleito inimigo público.

Um comentário:

  1. quando estava a caminho da festinha da virada passei em meio a area hospitalar. Pensei em quem poderia estar la dentro, sem ver o ano virar, nascendo com o ano ou simplesmente trabalhando sem sinal daquelas cores de festas.

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