
Alimentava suas esperanças em um horizonte em ressaca. Aquelas nuvens borradas ao fundo, o frio contido em seu ventre, e noites mais ou menos dormidas, em que seus pensamentos pareciam tornar-se sonhos de interpretações forçosas. Acreditou naquele papo de que sonhos têm fundamento, e que representam carências pessoais. Negativo! Seus pensamentos, esses sim. Sonhos são incontroláveis, e escarneiam e sarcasmizam as banalidades mais turvas dessa vida cotidiana, enfadonha e molestada.
Tinha uma vida pela frente sem tê-la. Tudo que tinha eram nuvens, e por serem nuvens se desmanchavam ao primeiro sopro mais revolto que aparecesse. E lá se iam tomando formas cirróticas, sem preocupar com as comparações infantis entre suas formas iniciais e objetos quaisqueres: bola, cão, carneiros.
Carneiros! Que idiotice! Se viu um carneiro na vida, foram umas duas vezes. Uma na fazenda de Tio Abelardo e outra, quando visitou aquela feira agropecuária em São João. Depois disso, o bicho não passava de uma vaga lembrança de documentários televisivos, ou figurinhas de álbuns.
Maior idiotice era aquela trouxice de carneiros ao dormir. Insônia? Carneirinhos! Nunca conseguiu imaginar algo além de um algodão avantajado saltitando feito um pônei sobre uma cerca. E nunca conseguira dormir com essa imagem na cabeça. Seria pelo menos idiota, e menos incomodante que seus pensamentos triviais.
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