"Sabe o que é? Nunca procurei respostas. As perguntas, elas sim, me incomodam: ressoam, reverberam, ricocheteiam. É tipo um masoquismo da dúvida."

sábado, 9 de janeiro de 2010

Chávez e o Bolívar


A Folha de São Paulo noticiou hoje uma medida do governo Chávez de desvalorização da moeda venezuelana. Haverá duas taxas de câmbo vigentes: uma mais valorizada e a outra menos, sendo que a primeira busca combater uma taxa de câmbio extra-oficial que a estaria triplicando.

A inflação, afirma ainda a Folha, saltou em 25% em 2009, enquanto as reservas cambiais diminuem em 36%, graças à desaceleração das exportações do petróleo, resultado da recessão mundial.

Portanto, na lógica econômica, menores reservas cambiais implicam em desvalorização monetária: suponhamos que, se antes, com um bolívar, se compravam os mesmos bens ou serviços que se compravam com um dólar em qualquer parte do mundo, agora, com um mesmo bolívar, desvalorizado (menos dólares em circulação, comprar um dólar ficou mais caro, sendo necessário mais bolívares para tanto, o que significa que para cada bolívar se compram menos dólares, ou para cada dólar se trocam mais bolívares).

Ou seja, há mais bolívares em circulação para comprar uma mesma quantidade de bens e serviços no mercado internacional, que dólares para tanto. Há mais bolívares em circulação que dólares, o que eleva o preço dos bens e serviços venezuelanos, comparativamente.


O efeito do chamado "imposto da inflação" descamba numa corrosão do poder aquisitivo de camadas menos favorecidas da população, o que é desastroso para uma economia emergente como a da Venezuela.


Veremos como essa dualidade de taxas influenciará as reservas cambiais do país. A experiência não é inovadora, tendo mesmo o Brasil adotado a dualidade cambial: a partir de janeiro de 1989, coexistiram duas taxas de câmbio: uma controlada pelo BACEN e outra de taxas flutuantes, definidas conforme as regras de mercado. Esse modelo perdurou mais ou menos até 2005, e teve impactos importantes para o avanço e resistência aos abalos mundiais, da economia brasileira. Difícil dizer, de antemão, se as medidas chavistas concluirão algo semelhante.


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