"Sabe o que é? Nunca procurei respostas. As perguntas, elas sim, me incomodam: ressoam, reverberam, ricocheteiam. É tipo um masoquismo da dúvida."

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As Minas, minadas


Visitando o livro da historiadora Laura de Mello e Souza, O Sol e a Sombra - Política e Administração na América Portuguesa do século XVIII (São Paulo, Cia das Letras, 2006), fui sacudido pelo tremor das interpretações: os processos históricos confirmam Minas Gerais em sua vocação secundária.


No calor da narrativa- a autora é consciente dos argumentos de que lança mão - do capítulo São Paulo dos Vícios e das Virtudes, é exibido um quadro de homens interessados na empresa desbravadora (com todos os seus riscos e descontentamentos). Esses homens são desenhados como os bravos paulistas, e a impressão que se tem é que Minas Gerais realmente se tornou a sombra de um sol irradiado a partir do vale do Anhangabaú.


Não acreditava que fosse diferente, pelo menos até meus quinze, dezesseis anos. Tendia, até então, a encarar Belo Horizonte como a terceira capital do país, a nova metrópole, e Minas Gerais como o segundo colégio eleitoral e segunda população, um misto de economia de PIB crescente e arrojamento intelectual próprio. Entendia, relativamente, que a hipervalorização de aspectos culturais, como o "mineirês", o queijo, o pão de queijo, o cafezinho e alguns mitos como a enorme estátua de bronze do forjado Tiradentes no cruzamento entre a Av. Brasil e a Afonso Pena fossem apenas elementos de uma idealismo artificial, inventado com o propósito de expurgar certo orgulho ferido, desde a Revolução de 1930.


Acompanhando melhor de perto o desenvolvimento econômico regional, as falhas na condução de certos processos pelas camadas dirigentes levaram ao secundarismo evidente: esse regionalismo exaltado não é nada mais que uma necessidade dos autores da história da capital mineira. Afinal, abandonar o dedim di prosa, o bulim de fubá, a missa na paróquia é algo complicado ao emigrante da pequena cidade do interior. Composta por fluxos migratórios massivamente regionais, Belo Horizonte é, sem dúvida, misto de tradições interioranas e das pretensões da modernidade. Uma grande roça, a bem da verdade.

2 comentários:

  1. gente, que isso?
    é a prova que vc vai fazer que inspirou isso tudo? bom, eu sei que vc pode ter lido o livro por livre espontanea vontade, mas achoq ue até me perdi no racioncinio.

    Falando do atual quadro, até uns anos, uns 16 como disse vc, eu considerava BH a terceira cidade do Brasil, até que chegou um belo professor de geografia que me informou que BH está atrás de Salvador. Tudo bem, não é segredo nenhum o crescimento do ACM, ops, da Bahia durante a década de 90. O fato é que ontem por coincidência atoa na internet rolou uma pesquisa das maiores cidades do país. E eis que BH além de Salvador deu espaço a Fortaleza em sua frente (isso sem considerar o site do IBGE que em população colocou Brailia tb a frente de BH). Sei que essas análises de tamanho de cidade não trabalha economia, mas de certa forma sempre há uma ligação, ou não?

    inté.

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  2. Sim, há uma ligação, porém muito fraca. Maior o crescimento da cidade nos últimos anos, significa que mais pessoas nascem, mas não necessariamente que todas terão acesso a emprego, renda, e condições de vida digna. O crescimento demográfico é um estágio que revela a queda do índice de mortalidade infantil (relativa melhoria de condições sociais estruturais) mas por si só, não revela o aumento do nível de renda ou o incremento econômico.

    Claro que, se superado o estágio de mortalidade infantil alta e atingidos certos patamares de desenvolvimento humano, determinada população crescer, deve-se perguntar o porquê. Fatores econômicos de desenvolvimento (e vantagem em se ter uma família numerosa) certamente se incluiríam na análise.

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