Não faço ideia se tem alguém lendo meus posts. Mas hoje começa uma saga do desespero. As seleções de mestrado batem às portas, as leituras ficam para trás. Precisando reativar a memória, vou rabiscar umas espécies de resenhas/resumos do que já li. Transformando meu blog em um "porto-seguro" de informação um pouco mais sistematizada: tudo bem, leitor, se vc não se interessa por história cultural ou social.
Um espaço meio egoístico, este. Mas em breve volto a trazer coisas criadas por mim mas com finalidades não-egoístas.
Vou começar com o livro do Fernando Novais, tão propagado como um dos "revolucionários" historiadores pela geração USP, que "inaugurou" uma análise do processo de desmontagem do Sistema Colonial não apenas com os olhos intestinais e tradicionais dos intérpretes (sociólogos e economistas tributários de uma historiografia muitas vezes desenvolvida com alguns tons marxistas, como Caio Prado Júnior e Celso Furtado), mas trazendo a si certa posição de historiador "hard" (se é que assim podemos colocar), conferindo uma visão estruturante e globalizante do colapso do Antigo Regime e do próprio Sistema Colonial, pari passu.
Revolucionário ou não, o livro Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808) lança mão da tese de que "a política (portuguesa) relativa à colônia ("brasileira") se manifesta como resposta aos problemas efetivos que a manutenção e a exploração do ultramar apresentavam à Metrópole" (p. 5). O fenômeno específico é o quadro de certo aparato mental dos dirigentes metropolitanos que, por meio de normas e ações, conduzem as transformações inseridas no quadro maior, de mudanças estruturais e colapso do Ancién Régime.
Capítulo I- Política de Neutralidade.
A expansão ultramarina e colonial é um processo inserido como elemento decisivo no jogo político das principais potências europeias, as quais buscavam sua hegemonia. Entender o surgimento de cada potência europeias significa estabelecer as preponderâncias sucessivas que é parte integrante do próprio processo de formação dos estados modernos.
Portugal e Espanha, superados por outras nações e colocados em condições secundárias no curso da modernidade, conseguem se manter relativamente autônomos e manter suas possessões coloniais. Portugal consegue manter seus domínios, atravessando a sucessão de crises e tensões, ao alinhavar-se à Inglaterra e constituir o Brasil como núcleo essencial da máquina colonialista. Inglaterra garantia a proteção se Portugal concedesse vantagens comerciais no mercado ultramarino. A preservação das colônias (e sobretudo das possessões na América Portuguesa) se torna condição de manutenção da própria existência de Portugal- é moeda de troca para as proteções e intervenções inglesas. Resumindo: Inglaterra protege as colônias e a metrópole para explorá-las em seguida. A ameaça vinha da Espanha bourbônica, apoiada na aliança com a França, que tinha planos de refazer a união ibérica. O autor diz que essa política portuguesa é de neutralidade (coisa com que não concordo)
A extensão e importãncia das colônias ibéricas só foi mantida graças à rivalidade entre Inglaterra e França, e a diferença entre posição política e econômica das metrópoles também. O evento que aponta a crise do Sistema Colonial mercantilista é a independência das colônias inglesas. A defasagem entre a posição econômica política e econômica das metrópoles é, por si só, elemento intrassistêmico que justifica a crise superveniente.
Capítulo II: A Crise do Antigo Sistema Colonial
Discute-se o sentido comercial da colonização moderna, os elementos caracterizadores do Antigo Regime: a centralização política, sociedade estamental, capitalismo comercial, expansão ultramarina e colonial são caracterizados, e suas decorrências (escravismo como tendência à primitiva acumulação de capital, consytituição de economias de subsistência voltadas a seu próprio consumo- daí a necessidade de se colonizar para o capitalismo - criando mecanismos em que se impunham as formas de trabalho compulsório). discutidas como fatores da montagem e organização do sistema colonial. Esses fatores desembocam na crise do colonialismo mercantilista, uma vez que a economia escravista e a produção para o capitalismo europeu solidificavam as bases sociais num binômio senhor-escravo: a linha de desenvolvimento econômico é a de complementar a economia central metropolitana. As colônias são o fator fundamental para a acumulação primitiva de capital das economias centrais. Além de ampliarem o mercado consumidor de produtos manufaturados, criando os pré-requisitos para a revolução industrial. A dinâmica do sistema, portanto, ao funcionar plenamente, vai criando ao mesmo tempo as condições de sua crise e superação. Nesse sentido, a competição das potências no Ultramar é furiosa, a Inglaterra conquista seu espaço hegemônico após a guerra dos Sete Anos e antes da independência dos Estados Unidos da América do Norte: fortalece seu exclusivo metropolitano com suas colônias, acentua a a penetração nas colônias ibéricas, através da metrópoles ou mesmo do contrabando. A ruptura do pacto, feita pela independência dos EUA, a possibilidade se torna realidade, as formas políticas republicanas acentuavam o quadro de crise não apenas do Sistema Colonial, mas de todo o Antigo Regime.
A resenha continua.
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