Na segunda metade do século XVIII, convergem duas tendências no comércio colonial e internacional: de um lado, o desenvolvimento irreversível da revolução industrial inglesa exigia cada vez mais a abertura dos mercados ultramarinos consumidores de produtos manufaturados; por outro lado, a política de autonomização e desenvolvimento econômico dos países ibéricos ia cada vez mais dificultando a penetração dos produtos ingleses nos mercados do ultramar pelas vias metropolitanas. (p. 123). As tensões desencadeadas pelo surto industrialista ameaçavam o próprio pacto da Inglaterra com suas colônias. Essa crise é apresentada como desafio à administração metropolitana, que a deveria enfrentar e resolver.
Portugal está em acentuado crescimento populacional. Apesar de alguns autores apontarem tal crescimento como relacionado a um certo incremento das atividades econômicas, o que se observa de fato é o profundo retraso de Portugal no sentido de levar a cabo um projeto de expansão das atividades manufatureiras organizadas em moldes capitalistas, o que já havioa sido denunciado por Alexandre de Gusmão, D. Luís da Cunha e outros. Uma política verdadeiramente protecionista e industrialista não se articula antes da terceira fase do governo de Pombal, que conduziu, segundo o autor, política manufatureira coerente e sistemática- tratou-se de esforço de recuperação. Esse desenvlvimento é tardio, mantem o problema do atraso e decadência. Já o Brasil mantém, em suas estruturas básicas, no arcabouço de sua economia exportadora e nas feições de sua sociedade escravista, os traços fundamentais da vasta zona periférica de exploração das economias dinâmicas do Velho Mundo.
Como Portugal poderia defender seu patrimônio (preservar seus domínios coloniais)? A defasagem do crescimento português em comparação às demais metrópoles europeias, e a pequenez geográfica do reino luso em comparação a seus domínios tornavam a manutenção territorial um problema. É no período do gabinete de Pombal que se lançam as linhas de definição territorial e preservação das fronteiras. A transferência da capital do Brasil para o Rio de janeiro e a do Governo do Maranhão para Belém do Pará demonstra essas preocupações de natureza geográfica. A competição colonial é agravada de forma definitiva, revestem-se de preocupações militares a questão da proteção do território e da integridade das possessões. Havia a preocupação também de certo perigo interno de uso de força e violência (causados pelos naturais do país, p. ex.). Os colonos começam a tomar consciência das oposições de interesse, a assimilar ideias revolucionárias, a aderir a ideias de contestação. Uma vez rompido o primeiro elo - a independência das colônias inglesas da América Setentrional - todo o arcabouço do Antigo Regime entra em crise. Por isto mesmo, a defesa do patrimônio colonial significava também a manutenção do absolutismo na Metrópole.
A importância da filosofia crítica da ilustração passa a se constituir como parte integrante do processo de alteraçao estrutural. Convergiam argumentos idealistas e argumentos utilitários para configurar o anticolonialismo das Luzes, que criticavam a dominação política da Metrópole, exclusivo comercial, escravismo e tráfico, a América voltava a penetrar no horizonte intelectual da Europa. A face reformista das luzes que incidirá mais sobre a metrópole, na colônia, a face revolucionária. A literatura iluminista será recorrente nas estantes dos intelectuais brasileiros desse período, que passarão a tomar consciência de que a Europa estava chupando toda a substância das colônias, de que o rei era como qualquer de nós, e que isso de religião é peta.
O que se tentará fazer é impedir o enfraquecimento do exclusivo metropolitano, coibindo o contrabando através de severa fiscalização e legislação. A metrópole não podia abrir mão do sistema. Curioso dizer que o contrabando era ele também um flanco de entrada de livros proibidos e mercadorias que eram impedidas de chegar aqui. Uma certa resistência, por parte dos colonos, à prática do exclusivo metropolitano do comércio, vai se engendrando com o próprio desenvolvimento da colonização. O regime promovia incrível alta dos preços e escassez das mercadorias estancadas, e criava condições para o florescimento de uma sinistra casta de atravessadores. Claro, o sistema era criticado pelos teóricos do mercantilismo ilustrado. Como também o foram as Companhias de Comércio. Há uma fissura entre os interesses dos mercdores e os interesses da Metrópole.
Também era necessário reover os óbices internos que tivessem operado no sentido de travar o desenvolvimento industrial e canalizar as vantagens da exploração colonial do sentido de superar a acumulação primitiva e desencadear um processo de desenvolvimento manufatureiro. Nessas condições, a própria assimilação, pela Metrópole, dos estímulos, engendrados pela exploração das colônias, se constituía num problema. Assim é que o Brasil vai se tornando cada vez mais vital para a sustentação da metrópole. Várias linhas de argumentação são conduzidas para justificar o atraso da metrópole portuguesa: uma que estabelece que o período filipino teria impedido o reino de cumprir sua vocação ao progresso com D. Sebastião, em clara interpretação ufanista: uma segunda vertente, que propugna a ideia de que a perda das feitorias do oriente, a descapitalização de Portugal pelos espanhóis e o atraso do Reino pela decadência espanhola. Uma terceira linha atribui o atraso do reino à ação expoliativa da Inglaterra. E uma última linha explicartiva afirma que as próprias colônias (falta de gente, atraso da agricultura, não desenvolvimento manufatureiro) seriam responsáveis pela ruína de Portugal.
Esta última linha é exposta pelo autor como capaz de explicar parcialmente a decadfência do Reino, mas que certamente se somavam a vários problemas que se ligavam uns aos outros, em que o Portugal da época moderna parece configurar a situação de cristalização do capital comercial, que cria classes não-produtoras, homens de negócio, gente da nação, reinvestindo-se na riqueza móvel, se bloqueava a transição da acumulação mercantil para o setor produtivo. A formação social decorrente do quadro econômico é, portanto, fator de manutenção das estruturas arcaicas e do engessamento da modernização/industrialização portuguesa.