"Sabe o que é? Nunca procurei respostas. As perguntas, elas sim, me incomodam: ressoam, reverberam, ricocheteiam. É tipo um masoquismo da dúvida."

quarta-feira, 21 de julho de 2010



Esperaram muito tempo, ocupações sem fim, desordens do tamanho do Belvedere, abrutalhamentos urbanos da ordem do Buritis, para finalmente ser aprovada nova lei de parcelamento, ocupação e uso dos solos urbanos de Belo Horizonte. Diminuem o tamanho das edificações, acirra-se a fiscalização sobre obras, regulamentam-se as dimensões de áreas livres e varandas. Alturas de prédios em alguns bairros passam a ser limitadas também.


Antes constatar as ilhas de calor, a excessiva especulação imobiliária, o crescimento vetorizado -ou setorizado- e a extrema desigualdade e concentração da ocupação urbana.

E ainda há o problema da Granja Werneck, sobre a qual querem construir a Vila da Copa. Em área quilombola.

É aqui que eu moro, e muitas vezes me pergunto: é aqui que eu quero ficar?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Bodas

E eis que me volto às voltas mais voltaicas da vida. As escolhas vem e vao, as palavras pesam, as promessas despencam, a carruagem anda. Estava lá a criatura ingênua, a preencher a primeira ficha de inscricao para o Vestibular da UFMG. Faria como treineiro, para testar seus conhecimentos, para o ano seguinte. Estava certo, desde seus quinze anos, de que cursaria Direito. O curso dos diplomatas, dos advogados, dos homens engravatados, que falam bonito e ganham dinheiro. Nao tinha visto curso cujo curso fosse tao histórico, em movimentos crescentes de conquistas: levantavam vozes em Paris, acirravam-se lutas em Havana, e olha só, discursavam os senadores romanos. Uma imagem poética, discursiva, ideal.

Assinalou História, foi aprovado, acreditou ser simples entao passar no ano seguinte para Direito. Foi o que fez. Comecou com paixao, terminou com ressalvas. Muitas. Descobertas e acertos. E preferências.

E viu-se voltando à História...Ela voltando nele. Dando choques de água fria. Absorvido pela sensacao de entender os homens, já que as leis deles pouco dizem. Precisava ouvir o mundo pela boca dele mesmo. E vê-lo em seu curso. Conflituoso, nao apaziguado.

Casei-me com Clio. 

De-banda

Estava à toa na vida, 

Nenhum amor me chamou

Chamei pra ver se respondia.

Veio quem eu menos queria,

Esperei mais um tempo.

Nao sei se isso adiantou.

Olhei, frêmito, afoito: o presente era eu. O futuro era o amor, 

O passado, a ilusao.

Esqueci de meu tempo, abri o caderno, esperei recordar o irrecordável: que viessem as lembrancas.

Imaginei situacoes. Lugares, prazeres, fogaréus fátuos. Tensoes superficiais.

Cruzava olhares, horizontes, dados.

Me perdi. Sem nunca ter me achado.


terça-feira, 6 de julho de 2010

Relatos de cidade crua

Nao preciso ir longe, a nenhuma metrópole de filme de gângsters, nem mesmo ao Rio de Janeiro do frissom midiático. Violência bate na cara, pode ter sido só um arranhao, leve tapa. A dor pode ser graduada. Objetivamente, fui espectador. Poderia ser vítima.

Cena 01. Chegamos eu e mais três amigos num bar, ali na Serra. Um deles diz à motorista do carro se nao preferiria pará-lo mais à frente. Achara o lugar estacionado muito escuro. Eu, ingênuo, disse, bobagem, estamos próximos do bar e do movimento. Nao há perigo.

Pois havia. Saímos eu e a motorista, mais cedo, e indo pegar os pertences dos colegas. Passamos por um carro cujo vidro lateral estava com um senhor rombo. Um buraco grotesco, certo frio e silêncio incomodante. Sucederam-se gritos, coisa como gente, ali, pega ladrao, pega ladrao, repetidas vezes, cada vez em tom mais alto. Luzes vermelhas tremulavam, irradiadas entre folhas de trepadeiras de muro. Vi um homem pisando em outro, na íngreme calcada de concreto da ladeira. E ouvi gritos contínuos. Arrancamos o carro. Gelo interior. Abracamo-nos.

Cena 02. Sábado, oito da noite. Ia ao concerto de piano da graduacao de um amigo. Coincidentemente encontrei uma amiga no ônibus, 2004, que também ia ao concerto. Conversávamos sobre trivialidades quaisqueres, receitas da TV ônibus, racismo e apartheid, colonizacao holandesa na África do Sul. Entrou uma voz esganicada, confusa, a berralhar coisas ininteligíveis no ônibus. Pensamos em louco, drogado, algo mais corriqueiro. Nao era. Avancou a catraca, e pos à mostra sua arma de fogo na cintura. Havia um segundo, a auxiliar a coleta dos pertences. Exigiu celular e dinheiro. Eu, apenas com meu pobre celular Nokia q comprei em 2007, com o dinheiro da primeira bolsa de pesquisa que obtive. Nem tirei do bolso, nao tinha prestado atencao na exigência do celular. E doze reais. Os homens ignoraram tamanha pobreza, arrancaram os 50 reais da mao de minha amiga. Um pai em desespero agrrou sua filha. Desceu do ônibus. Havia desobedecido a ordem dos assaltantes. Desceram e permaneceram apontando a arma aos dois acuados. O ônibus seguiu. Muita raiva, irascíveis alguns passageiros, outros chocados. Ouvi um: "a gente trabalha sábado até essa hora pra merecer isso?" Murros na parede do ônibus. Choros e solucos. Pedia que parasse. Dois pontos depois parou. Gritaram à viatura, estacionada diante do Colégio Militar, para que pegasse os homens. Foram. Vacilantes. 

Descemos do ônibus. Muitos foram prestar a ocorrência. Disse a minha amiga que recuperar aquele dinheiro seria quase impossível. Quantos ônibus passam pela Antônio Carlos por minuto? Pegamos um até o final de nosso destino, a UFMG. Os autores do crime, provavelmente, outro, com outro destino, para bem longe dali. 

Me senti completamente espectador, atordoado, sem queda de qualquer ficha.

Prefiro nao acreditar em converseiro fiado. Violência está aí, para qualquer um que a presencie. Ou infelizmente a sofra. Seguranca pública, nem tanto. Saber que se está seguro no meio social é muito mais difícil que saber que nao se está. As possibilidades sao inúmeras, os fatores, complexos, os agentes, diversos. 

Comunitarismo fraquejado

Este momento em que escrevo é pernicioso. Produz inversões sem fim. Estabelece não eixos, mas rupturas em quaisquer possibilidades de alinhamentos: estamos diante de uma bobajada chamada comunitarismo - isso mesmo, uma espécie de desfibrilamento cardíaco do curso tradicional que o capitalismo de matriz liberal produziu.

O indivíduo cercado em sua individualidade, seu potencial para o consumo e para as atividades que marquem sua "importância singular" : lógica de identidade construída por uma subjetização da objetividade, degringola a cada passo da civilização pós-industrial. 

Subjetivização da objetividade é, nesses termos, o resultado esperado da complexa teia social: alguém é o que objetivamente pode ser. Num materialismo que dispensa qualquer referência a autores, o que se observa é que os dados da existência humana são aqueles que objetivamente compõem o traço da especificidade, da singularidade, da composição desse "eu", tão abstrato, de cada um: com quem sai, que lugares freqüenta, onde trabalha, qual é sua formação, que faz durante seu dia-a-dia, quantos reais possui em sua conta bancária, que música ouve, que comida come, que livros lê, que filmes assiste.

Tudo isso se estabelece por condições materiais, certo. Mas esse mesmo indivíduo, que depositava confiança em sua inextricável liberdade, perde toda sua orientação na aniquilação diária que a mesma sociedade de massas inventou: convivem sofrimentos, fomes, pestilências, insalubridades, catástrofes em territórios esfrangalhados pelo colonialismo, pelo neocolonialismo, pela permanência atroz de estruturas de subordinação e misérias sem fim.

Resolver tais problemas não parece solução, tampouco prioridade. A lógica maior é a de respeito alimentado como um gordo novilho cevado, a toda e qualquer diferença, sem, no entanto, que ela nos chegue a incomodar. Estou falando de um discurso perverso, como esses de alguns países europeus, que querem ter no Brasil exemplo de tolerância à diferença, que acreditam que coabitar uma cidade com milhares de barracões e algumas torres de luxo é exemplo de cultura comunitária, de paz e boa convivência. Cultura que esbofeteia todos os dias nossas caras, com uma violência explícita e ácida.

Se há que se falar em comunidade, comum + unidade, ela tem que existir nas condições mais simples, imediatas, materiais, que contribuam não à formação da subjetividade, da individualidade (e de indivíduos que se acham integrados de alguma forma que ninguém sabe qual é), mas acima de tudo, de sua composição social, de sua efetiva integração a um corpo assim chamado de comunidade.




Políticas para a indústria brasileira: cadê?



Os números do IBGE divulgados recentemente apontam uma desaceleração da produção industrial do Estado de São Paulo. Responsável pela maior parte da produção industrial do país, o estado desacompanha o ritmo de ligeiro crescimento do indicador PIA do país.

Sim, é verdade que a produção industrial indica o fator mais importante de uma economia, e não estou me filiando a nenhuma corrente de pensamento econômico: produção industrial demanda serviços, e matérias -primas, o que por óbvio fomenta as atividades do setor terciário e primário. É o verdadeiro coração de uma economia, na lógica mais simples que há a se fazer.

E, obviamente, depende de políticas que incentivem tais atividades: planejamento tributário, infraestrutura de transportes, energia, etc. O que me incomoda é: planos para o fomento da atividade industrial desconcentrados do polo sudeste ainda não existem. PAC, ou qualquer outro ainda são palavras frouxas, sem uma efetividade que salte aos olhos. Vejamos os discursos dos candidatos à Presidência nesse sentido. Aguardo com certa ânsia.   

Bete Balanço.

Estou num momento bete balanço. Dor e grana parecem próximos. Basta seguir a estrela, um brinquedo de "star". Afinal, nada aqui se é. Se está. Um brinquedo de estar. Brincamos sempre de estarmos algo.

Se o futuro é duvidoso, necessário é vir com tudo. Pois estes, nunca cansam. São verdadeiros Sísifos.

O vídeo da canção: http://www.youtube.com/watch?v=Wpwoi7EtW4w&feature=player_embedded

Indignado mesmo!

O post só cumpre uma utilidade pública: O sítio do Arquivo Público Mineiro está desativado por motivos de uma relevância esdrúxula. Informa o site que “Este site está desativado em função da legislação eleitoral até que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) oficialize o término das eleições”.

Mais uma vez, está-se diante da confusão entre serviço institucional e propaganda antecipada. Tudo porque o candidato tucano Antônio Anastasia foi multado em 5 mil reais pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais por estar fazendo propaganda antecipada, ao conceder entrevista ao síte Agência Minas, vinculado ao Governo, segundo li no Estado de Minas.

Governo se difere de Estado, já cansamos de saber. Que cargas d'água de propaganda antecipada o site do Arquivo Público Mineiro poderia fazer? Anunciar suas obras de ampliação? Bom senso nessas horas deve sempre falar mais alto, em especial a um candidato da situação. Impedir um serviço prestado pelo arquivo (consulta à documentação digitalizada) é que não.