"Sabe o que é? Nunca procurei respostas. As perguntas, elas sim, me incomodam: ressoam, reverberam, ricocheteiam. É tipo um masoquismo da dúvida."

terça-feira, 24 de maio de 2011

Dívida pública para o público



A dívida pública elevada é ruim pra qualquer governo, seja ele orientado pelos meandros de terceira via, de neoliberaloide ou do que quer que seja. Por um simples motivo: a dívida pública onera a população como um todo, especialmente as gerações futuras: toda dívida vence, toda dívida (ou quase isso) deve ser quitada, é princípio básico de direito e da economia. Pois bem, e onera em dois sentidos: um positivo, que significa aumento futuro de tributos, outro, negativo, através de enxugamentos orçamentários com gastos sociais, desenvolvimento de políticas públicas, etc.

A curto prazo, pensando em soluções para o desenvolvimento de economias estagnadas, talvez o endividamento público possa parecer a melhor solução: foi o que vivenciamos aqui na américa latina especialmente no século passado né? Criar condições para o desenvolvimento, para que se possa falar em investimento, geração de poupança nacional, equilíbrio fiscal, maior crescimento econômico futuro e etceteras. 

E vamos combinar, fundos de reserva existem, a crise de 2008 prova isso: há crédito a ser concedido, seja para bancos ("salvos" em operações milagrosas), seja para governos. Estes segundos, no entanto, costumam ser péssimos pagadores, sujeitos aos refluxos de suas economias e das economias do resto do mundo (pois é impossível se pensar apenas em mercados produtivos e de consumo dentro das fronteiras nacionais), às mudanças de governo e de orientações econômicas,...

Enfim, penso que é o velho problema desse "paradigma" (com o perdão da palavra) de modo de produção capitalista que enfrentamos: o Estado deve ser forte, o que não significa um Estado grande. Forte o bastante para intervir nos momentos de crise, mas não só, garantir o investimento, e o desenvolvimento, a organização da sociedade civil, a livre-iniciativa, etc.

A Uniao Europeia tem adotado políticas ortodoxas de ajuste orçamentário, por conta de um cenário já desanimador...Resumindo, está pensando em custos não só presentes, mas também futuros, de possíveis dependências externas e endividamentos. O problema é saber até que ponto isso se justifica, com níveis de desemprego na casa das dezenas percentuais.

Que decisao, com relacao ao endividamento nacional, tomará o povo da Espanha? Pelo visto, com o enfraquecimento do PSOE e o fortalecimento do PP espanhol, o cenário é um tanto voltado à ortodoxia neoliberal. Veremos...

 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Educacao revolucionária para quem, cara pálida?

A sociedade da informacao como a propulsora de (outras) velozes transformacoes do capitalismo. As linhas fordistas, a producao em série, os milhoes e milhoes de bens a serem consumidos e produzidos, já sabiam muitos, seriam quase todos feitos por máquinas. Nao se trata de ajustes apenas adequados às necessidades crescentes, porque aqui nao se trata de pensar as relacoes de mercado como a teoria de Malthus sobre crescimento populacional e demanda de alimentos em proporcoes geométricas, e producao dos mesmos em proporcao aritmética. Isso é pouco, o século XXI demonstra que crescemos cada vez menos, e estamos cada vez mais diante de problemas já gigantescos. Trata-se de eleger um modelo dos criadores, inventores, descobridores. Pois estes inventarao novas tecnologias, suplantarao modelos para o consumo e assim deixarao que as máquinas trabalhem com a producao mecânica, fordista, com as esteiras. Até o dia em que a inteligência artificial provoque uma ruptura dessa relacao de subordinacao entre máquinas e homens.

Terrorismo digital à parte, a revolucao pela via educacional parece ser uma bandeira muito bonita, comprada por um amplo espectro político, das extremas esquerda e direita, até os adeptos de terceiras vias, liberalismos e conservadorismos. Fato é: a "revolucao" pela educacao, enquanto política pública, assumiu a forma mais desejável ao capitalismo que substitui o braco pelos cérebros, o suor por dedos irriquietos que digitam, escrevem, calculam. Somente uma populacao devidamente instruída, e nao somente instruída como o modelo liberal de educacao fez exigir - o amplo acesso ao ensino básico, mas instruída e apta a conduzir aportes, inovacoes, pensar cientificamente. A educacao, enfim, para o desenvolvimento.

Pergunta-se: um modelo que atende à substituicao progressiva de seres humanos por capital humano. Pessoas que pensam, por pessoas que produzem pensamento, que por sua vez materializa-se em produtos novos, solucoes novas, a serem vendidas, comercializadas, liquidificadas na modernidade tardia. Nao se trata aqui de condenar cérebros inventivos. Pelo contrário: devem sim ser estimulados! Nao devem é ser estimulados, contudo, seguindo apenas uma lógica agrilhoante, de cadeias, desenvolvida para a sociedade de consumo. 

É esse o modelo que critico, e que parece ser cada dia mais e mais estimulado: a caca aos estudos universitários, a sanha por diplomas-resultados, a procura irriquieta de homens por sobrevidas que nao se deparam com o estimulante desafio do conhecimento. Acabam contornando-o, vendo-o quando muito de relance. E os gênios, os inventivos, criativos, se perdem e sao evidentemente menorizados, desmerecidos - se comparam aos gênios das Mil e Uma Noites: sao escravos! Nao detentores de lâmpadas, mas escravizados por producoes, por lattes repletos, por produtos finais de pesquisas, esquecendo de um compromisso, anterior a qualquer invento: com a sociedade que o envolve, com o bem-estar dessas pessoas mesmas, com os rumos que classes dirigentes conferem à mesma sociedade. É o mínimo a se esperar. 

Portanto, sempre me pareceu muito clara a necessidade de desenvolver ensinos básico e fundamental nao só estimuladores de conhecimento, mas sobretudo atentos às transformacoes de comunidade em nível local, às integracoes regionais de comunidades, aos desafios e problemas sociais nacionais e também internacionais. É dizer, desenvolver mecanismos de entendimento do que seja cidadania, participacao popular, sociedade civil, governo, instituicoes e direitos. Pedir mais do que pode fazer um professor da rede escolar, já repleto de encargos e ridicularizado com seus breves ganhos? SIM! É exigir um modelo de educacao para além das obviedades que exige as transformacoes da sociedade de informacao. A verdadeira revolucao pela educacao comeca com o desafio de mais horas na escola (e também na universidade), e mais estímulo e fomento nao a cérebros escravizados, mas a cérebros de cidadaos livres e  sobretudo socialmente responsáveis.